Destino e Livre-Arbítrio: como poderemos alcançar uma liberdade maior

O texto a seguir constitui a transcrição do exposto na Mesa-redonda promovida pelo Clube do Tarô na Livraria Cultura do Shopping Market Place, em setembro de 2010, sobre o tema Destino e Livre-arbítrio.

Antes de falar um pouco de mim, eu posso dizer que trabalho, estudo e aprendo às voltas com sistemas simbólicos há várias décadas.
Isso começou de uma maneira muita engraçada, em 1970. Acho que já ouviram falar no I Ching, que é uma coisa que me parecia muito mágica. Comprei o livro na Inglaterra, em inglês, quando ainda não falava inglês. Tudo muito estranho. E começou assim minha busca, trabalhando assim com diversas conexões. Aí eu passei por vários caminhos. Então, fundamentalmente, do que eu queria comentar da minha história pessoal, esses elementos são os mais importantes.
Agora, sobre o tema que estamos trabalhando, do destino e do livre arbítrio, tem alguns pontos interessantes. Quando a gente pergunta sinceramente: Quem sou eu? Podemos falar: sou bonito, feio, gordo, magro, sou amoroso, sou duro, ou sou bom amigo, etc. Qualquer qualidade ou característica que eu posso descrever, são padrões que todos nós temos, são padrões repetitivos e que formam o que chamo de complexo de personalidade, complexo de ego ou complexo de identidade. Estas configurações são representadas nos diversos sistemas simbólicos. Mas a verdade é o seguinte: todos nós temos todos os signos, ou todas as possibilidades e isso é uma coisa interessante. Eu entendo que a nossa realidade é uma expressão, como se fossem notas musicais, sendo que cada tom é um aspecto dessa nota musical. Todos nós temos uma tendência de determinados acordes, temos situações específicas, processos específicos, e respondemos dentro de um determinado acorde.

  Agora, à medida que vamos ampliando nossa sensibilidade, e a nossa consciência e tudo mais, nós podemos ampliar essa maneira de expressão, e daí nós temos novas possibilidades, como também podemos reagir ou agir de uma maneira diferente dentro dos mesmos aspectos. Como exemplo, tenho um aspecto em meu mapa natal que é uma quadratura entre Urano e Mercúrio. Mercúrio é que trabalha em comunicação e o aspecto de Urano é trazer essas idéias prontas, o lado intuitivo e tudo mais. Este aspecto normalmente traz uma grande dificuldade de comunicação. Você tem as idéias, você tem as intuições, mas, de certa maneira, você tem as dificuldades de processá-las. Eu ainda sou um pouco, mas era extremamente gago com 20 e poucos anos. Entendo que se trabalhando, e hoje eu entendo que uma quadratura pode ser trabalhada, onde você poderia ficar bloqueado sempre, a vida inteira nesse aspecto você pode transmutá-lo.
E foi interessante que um trabalho que fiz sobre esse aspecto específico, fosse criar o poder de síntese. Por exemplo, quando eu comecei a estudar astrologia tive dificuldades, como todo estudante de astrologia, que estuda muitas informações e não consegue juntar coisa com coisa. De repente veio a imagem da árvore da vida em um sonho, que oportunamente reconheci como sendo a árvore da Vida cabalística, e isso acabou juntando uma série de elementos que eu já tinha, o que me deu uma direção.
O que quero comentar com isso, é que nós podemos, de certa maneira, nos conectar com o nível mais profundo e alcançarmos uma liberdade maior. Cada aspecto energético pode ser vivido de uma maneira mecânica, robótica; no sentido de que você está limitado, preso, numa armadilha, dentro de condicionamentos, quer sejam dados genéticos, familiares, sociais, e você pode abrir portas e, de certa maneira, pode criar conexões e pode começar a trabalhar redes, tanto dentro do nível horizontal (sintonia, compaixão, empatia), como nível vertical onde você se conecta a uma espécie de campo unificado, e essa conexão é possível através de uma série de maneiras. E isto é pura liberdade. Saímos do lugar em que estávamos presos. De qualquer jeito, todos nós já vivemos momentos mágicos com uma experiência de plenitude, quando saímos completamente de nosso estado normal. Então nós podemos sentir que com esses estados de conectividade podemos chegar a um nível de ressonância, de harmonia, a cada momento.
Outro assunto que gostaria de compartilhar, é que se nós estamos incomodados emocionalmente, e tem uma chave aí que vocês podem verificar com vocês mesmos, existe atrás disso alguma crença que não está funcionando adequadamente. Essa é uma hipótese que estou lançando no ar. Então, é um processo de reavaliação de nossas crenças, enquanto nós não estamos bem, e onde você pode conseguir criar algumas aberturas. Esta é outra forma de livre arbítrio.
Sintetizando, de uma maneira geral estamos bastante condicionados, mas é possível nos libertarmos destes condicionamentos, através do trabalho e da ressonância adequada.
Também poderemos nos utilizar do tarot para conseguirmos estas aberturas.
Eu queria aqui, e como o nosso tempo é um pouco limitado, propor o seguinte: mesmo que não tenha tempo de falar dos 22 arcanos, vamos falar de alguns, dento de meu propósito, que é o de atingir maior liberdade. Pensem em um arcano maior que vocês conhecem e eu vou comentar um pouco sobre ele. Que arcano maior vocês gostariam que comentasse?
[As sugestões foram de dois arcanos: 16. A Torre e 14. A Temperança]

A Torre

Primeiro gostaria de dizer que, dentro de meu sistema, trabalho a complementaridade dos arcanos, de forma que somem 23.
O Carro é o número 7, a Torre 16, e o 7 mais 16 somam o 23. Eu falo 23 porque é um número de mestria, pois 2 + 3 somam 5. O Carro é uma idéia que ocupa novos espaços, acontecimentos, novas atividades, e a Torre a libertação através de algum fator externo e que nos liberta de algo que estava nos limitando.

O que eu vou falar é o seguinte: dentro desse conceito que esse trabalho se aprofunda, não são negadas essas idéias que nós já tínhamos a respeito destes arcanos, mas a gente pode desenvolver um pouquinho em cima disso. Você trabalhando o Carro ou a Torre, por exemplo, percebe que através da Torre, você pode modificar um sistema de crenças que já é antiquado, um sistema de padrões de memórias e situações que nós estávamos presos.
Muitas vezes o que acontece é que nós ficamos muito presos ao nosso passado e aos nossos sonhos futuros, e isso não funciona mais porque fica nos prendendo, nos segurando. Nesse processo a Torre entra como um processo de limpeza de tudo aquilo que não nos serve mais. Então essa coisa de deixar ir, de libertação e de realmente soltar todas aquelas coisas que não fazem mais sentido na nossa vida, quer sejam internas ou externas.
A Torre ataca essa energia de passado e aí sim, nós teremos a possibilidade através do Carro, de manifestar e expressar as novas possibilidades. Trata-se, fundamentalmente de um trabalho; de uma idéia relativamente simples, mas muito importante.
Todas as vezes que alguma coisa me impacta, que de certa maneira me dá um choque, o ideal é não ter uma reação negativa, é você trabalhar, parar, e ver o que está demonstrando, o que é preciso deixar ir, o que está me prendendo, para que se possa realmente manifestar algo que possa ser novo.
Tudo o que estou falando aqui é como hipótese, ok? Mesmo que eu seja verdadeiro no que estou dizendo, não sou dono da verdade. Por isso eu acho importante ter essa construção, e não ter uma verdade absoluta, e ter uma construção contínua. Então, o que estou compartilhando com vocês é a maneira como tenho trabalhado essas idéias.

A Temperança


No caso da Temperança (14) somando 1 mais 4, dá 5.
É uma carta de equilíbrio e é interessante você pensar o complemento dentro do sistema da temperança. Então, pensando nesse sistema, estamos falando como podemos trabalhar esse processo. E neste ponto trabalharemos o Eremita (9) junto com a Temperança (14). A gente imagina que o Eremita não anda, mas ele anda, e se ele é um andarilho, não é solitário. Quando você é um andarilho e anda muito, sempre acaba encontrando alguma coisa ou alguém. E ele tem a lanterna, que é a lanterna da consciência, e nós sabemos que na prova dos “nove fora”, o número 9 é a prova da verdade. Então se vai trabalhando lance por lance, pegando pedra por pedra, e vai depurando todas as diferenças, aquela diferença que tem brilho e aquela que não tem.


A Temperança, nós sabemos, é uma carta de equilíbrio, aquela coisa de repouso depois de um período muito estressante, aquele período que você relaxa e restabelece as suas energias, e a gente pode imaginar também nesse sentido. E quando você busca muito, não adianta ter aquela coisa de buscar eternamente. Uma hora você precisa aceitar que já encontrou. Então, na busca e no encontro você tem um equilíbrio, e na Temperança quando você jorra o líquido de uma taça para outra, você está trabalhando com elementos futuros, passados, você está trabalhando uma série de conexões. E é uma coisa interessante. É outro caminho de liberdade.
Vamos nos lembrar que aqui estamos falando de como sair de um destino pré-determinado e entrar na liberdade.
Para dar um exemplo, vamos dizer que uma pessoa tem uma dependência química qualquer. Você pode perceber que se andar por esse caminho, vai ter uma série de distúrbios na vida, e talvez com este percebimento possa evitá-los. Então, se você fizer essa ponte, esse arco, pode receber esse choque e mudar sua atitude.

De repente você vai se cuidar um pouquinho, vai se equilibrar. Nessa mudança de atitude você chega ao equilíbrio de um lado ou de outro. Você tem uma porta para o futuro, se aprofundou com sua consciência e resgatou isso e chegou a um estado de harmonia. E com esse complemento de juntar os dois, novamente você chegou ao equilíbrio.
Então, o quem eu queria enfatizar agora nesse último momento é que, quando a gente começa a ter uma visão de processo, e isso não é apenas uma ou outra vez com o Eremita, nem uma ou outra vez com a energia da Temperança, mas se finalmente você conseguiu equilibrar aquilo que você que você buscou e encontrou, você percebe que vai conseguindo ter um instrumental para sua vida, uma maestria em determinado arcano, como se fosse um músico, que consegue focar várias notas e consegue criar diversas harmonias. Mesmo não sabendo completamente quem nós somos, nós vamos perceber que criamos harmônicas, e estamos conectados em uma música maior, e daí nós podemos trabalhar o destino, não no sentido de limite determinado, mas como um navio que vai numa direção de uma liberdade, ou de um propósito maior e que vem em direção ao nosso sentido de viver e de ser.


Intuição e imaginação


Alguém uma vez me perguntou como saber se uma idéia é intuição ou se é imaginação, sendo que a imaginação é aqui entendida como uma coisa que vai atrapalhar. Tem uma coisa muito simples aí. Quando nós estamos muito mexidos emocionalmente, é um pouco mais fácil termos um entendimento equivocado. O Tarot é ferramenta poderosa de ampliação da consciência, e a minha experiência é que se você está muito atrapalhado, é melhor você procurar um profissional, e tem a ver com o livre arbítrio. Eu só acho que com o tarô é um pouquinho mais perigoso que com o I Ching para auto-consulta.
Finalmente, temos uma última pergunta: podemos atuar sobre nossa realidade?
Eu, pessoalmente, não tenho uma resposta definitiva para esta pergunta, mas, por tudo que foi falado e presenciado, é lógico que existem algumas situações que precisaremos passar. Agora, como iremos atravessar esta situação não tenho dúvida nenhuma que temos escolhas e que nosso estado interior, nossa reação, nosso campo energético e nossa qualidade de reação e estado interno, pode ser uma liberdade nossa. Nós podemos tomar desta forma as rédeas de nosso destino; não sei o quanto no sentido externo, mas tranquilamente no sentido interno, e com toda certeza, nós podemos ser senhores do que nós passamos e do que nós sentimos. A nossa reação emocional pode acontecer espontaneamente, mas se nós formos senhores de nossas energias nós vamos saber equilibrá-las e trabalhar de uma maneira mais unificada, mais integrada. Então, isso é liberdade no meu ponto de vista. Eu não sei o quanto podemos modificar algo exteriormente, mas quanto mais conscientes e mais integrados formos, é claro que nosso poder de manifestação aumenta. Se estivermos muito divididos a nossa energia poderá não ser suficiente para grandes mudanças. Quanto mais energia conseguirmos integrar em nosso campo psíquico, maior será poder de realização, sem dúvida nenhuma.
Como reflexão final, tem uma frase que eu sempre gostei. Um macaco muito simpático fala o seguinte: “No momento que todas as minhas questões foram respondidas, mudaram-se todas as minhas perguntas”.

Obrigado e um beijão a todos.

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