Imaginação

Durante algumas centenas de séculos a imaginação passou a ser perseguida como algo negativo, falso, perigoso, diabólico, crédulo, patológico ou simplesmente infantil.

Sua importância como força criativa, como força associativa para as emoções, como base de visualização ativa, como porta de contato com as consciências dos planos sutis e como um portal da intuição foi quase que completamente ignorado e mesmo negado; quer pelas correntes filosóficas de cunho mais racionalista, quer pelas diversas igrejas (institucionalizações de movimentos religiosos), quer pelo pensamento científico.

Com isso, nossa realidade perdeu dimensão, perdeu a cor e a magia. A Mãe foi aprisionada.

O que poderíamos entender é que a mente racional  não precisaria competir com a imaginação, pois podem se complementar inteiramente. A imaginação, por ser plástica, pode se sensibilizar com os registros que se encontram no limiar da percepção humana, ampliando quanticamente nosso universo de possibilidades; enquanto que a razão será fundamental para ordenar, classificar, selecionar e integrar estas informações dentro da consciência no estado de vigília.


Já iniciamos este processo com o resgate de diversas técnicas de visualizações ativas, com formas expressivas de desenvolver a criatividade; com a integração dos processos emocionais em meios até então refratários a esta abordagem, como no meio empresarial e até mesmo na nova Ciência, ao perceber como os paradigmas condicionam sua investigação, ao incorporar o princípio de incerteza ao observado, ao começar a descobrir diversas inter-relações, e ainda como existe ordem até no aparente caos, através do estudo dos fractais. Em todos esses casos a imaginação desempenha um papel fundamental.

Podemos parar de dizer a nossos filhos e outras pessoas que estão fantasiando ou mentindo, quando tiverem algumas percepções incomuns, quando “estão vendo ou ouvindo coisas “ou acharmos estão  ficando loucos. Muitas vezes não estarão mentindo, fantasiando ou surtando. Perguntemos suas opiniões, valorizemos suas percepções, e muitas vezes poderemos ficar surpresos com a riqueza de informações ali presente. Lógico que com uma dose de equilíbrio e cautela.

A maneira mais simples de lidarmos com a imaginação, o que todos praticamos, é deixar
nos momentos mais tranqüilos as idéias fluírem livremente.

Sei que este tema é bastante delicado, mas por ser muito importante vou procurar desenvolver um pouco mais. Assisti a um vídeo há um certo tempo atrás, de uma neurocientista de Havard, Dra. Jill Bolte Taylor, que havia sofrido uma isquemia do lado esquerdo do cérebro; depois de vários anos havia recuperado grande parte de suas funções e estava dando um testemunho de sua experiência: resumindo, assim que teve o derrame, não conseguia mais diferenciar as coisas, mas tinha um grande sentimento de unidade de todas as coisas, percebendo que não havia uma separação real entre tudo que existe. Era um mundo de plena energia. A palestra era cheia de detalhes da experiência, mas o que gostaria de trazer aqui, além da sensação da energia unificada, é que em todo o trabalho de recuperação teve que fazer um extraordinário esforço em reconfigurar todas as impressões para torná-las inteligíveis primeiro para si mesma e depois para que pudesse voltar a interagir com o mundo de forma satisfatória. O outro ponto é, que segundo seu testemunho, havia atravessado a experiência de iluminação, pois o que havia vivenciado era totalmente compatível com o relato de diversos seres que por outras razões atravessaram o mesmo caminho.

Carlos Castanheda, em seu caminho xamânico, relatava sobre o nagual, uma espécie de grande oceano indiferenciado sobre o qual pouco pode se dizer, e o tonal, onde as impressões passavam a ter significado e, dentro de uma visão adâmica, tinham nome.

Poderemos também nos lembrarmos do inconsciente coletivo, mas como muitos acreditam já ter um certo entendimento sobre ele, acaba sendo reduzido ao conhecido. Prefiro chamar este grande desconhecido que estamos imersos de Oceano de Luz. A verdade é que nossos filtros mentais, que gosto de chamar de campo paradigmático de experiência, acabam reduzindo drasticamente  o nosso universo de percepção. E este fato acaba nos limitando, nos escravizando neste espaço-tempo, tirando nossa liberdade, diminuindo nosso conhecimento e compreensão de todas as coisas e, finalmente mas não menos importante, enfraquecendo nosso poder de realização.

imaginacao2

Estamos assim diante de um problema: se a imaginação, fantasias e visões podem ampliar
nossos horizontes, como fazer esta passagem sem ficarmos mentalmente fragmentados e de modo tal que este “novo mundo” possa ser vivenciado e integrado de uma maneira saudável?   

Sabemos que as drogas não fazem um bom serviço, pois mesmo admitindo que podem ampliar nossas portas de percepção, usando uma linguagem de Huxley, a indução artificial apresenta sérios riscos.

O desenvolvimento e abertura à imaginação pode ser o melhor caminho, e existem diversas maneiras de trilhar este caminho. Vou falar sobre algumas mais.

O uso das linguagens simbólicas, como o I Ching, Astrologia, Tarot, Runas, Kabalah, búzios, mitos, história de fadas e outras pode ser uma forma.

De uma maneira geral, da mesma maneira que fazemos para nos lembramos de um sonho, devemos estar relaxados mas desenvolvermos um estado de observação desapegada que em um primeiro momento não procura interferir, entender e resolver nada. A imaginação nos vem mais naturalmente através de imagens e cenários, como devaneios, muitas vezes a partir de algum gatilho, mas às vezes pode chegar como idéias ou conceitos prontos quando está associada à intuição. Após ela ser recebida aí, sim, nossa mente discriminativa pode entrar, avaliar, procurar separar o joio do trigo e procurar entender, assimilar e integrar os novos conteúdos.

Darei a seguir um exemplo, talvez um pouco mais dramático, de como ela pode funcionar. Entre outras atividades, sou tarólogo. Pois bem, muitas vezes recebemos pessoas que em um primeiro momento ficam fechadas e esperam que adivinhemos tudo. Um dia, veio uma pessoa particularmente bloqueada. Não conseguia fazer contato. De repente, aparentemente do nada, me veio uma imagem que não me fazia o menor sentido, a de uma garrucha velha, de cano duplo, um pouco enferrujada. Sem saber o que fazer com isto, perguntei à minha cliente se para ela isto significava alguma coisa.  Pois  bem,  aquele  que logo a seguir se tornaria seu ex-marido havia ameaçado alguns dias antes com esta mesma garrucha. Esta imagem abriu o canal de comunicação e fizemos um bom trabalho. Entendam, independente se foi telepatia, ou se foi “assoprado” por algum guia, ou um acesso ao inconsciente coletivo, ou qualquer outra coisa, o importante é que esta imagem chegou até mim através de minha imaginação, sendo depois elaborada e assimilada através de nossa mente racional.

imaginacao3

Não por acaso, o primeiro contato com o desconhecido se dá em um clima onírico, numinoso e parecendo um sonho. Hoje entendo que aquilo que estamos contactando não está necessàriamente neste estado, mas é como o lado direito de nosso cérebro, nossa imaginação associada à nossa sensação, pode receber e perceber estas energias, lembrando que no fundo, tudo é energia. Depois é que poderemos voltar ao outro lado do espelho.

É bastante importante estarmos tranqüilos. Se estivermos com emoções e sentimentos negativos, a imaginação, que por si só é neutra, se tornará negativa. Se não estivermos, primeiro procuremos nos equilibrar. A imaginação é um instrumento poderoso, mas precisa ser trabalhado com cuidado.

Uma outra técnica que há algumas décadas já tem sido usada com sucesso no meio empresarial é o “brainstorming”, tempestade cerebral, onde é incentivado que as idéias sejam trazidas sem censura, para só após serem elaboradas.

Ainda uma outra forma será não negarmos as primeiras impressões sobre qualquer coisa, dizendo que  é “só imaginação”, pois  um tronco às vezes não é apenas um tronco, uma lufada de vento não é apenas uma lufada de vento e assim por diante. As crianças pequenas sabem bem disto.

A meditação é outra maneira, que a grosso modo apresenta 3 caminhos: o caminho silencioso, onde se procura atingir o silêncio da mente, o “vazio” ou “espaço interior”; o caminho projetivo, onde procuramos criar telas mentais desejadas, associar às emoções desejadas e estabilizarmos,o que sabemos que tem produzido resultados, e finalmente o caminho que está diretamente associado à imaginação, que é a partir de um estado de relaxamento (presente em todas as formas de meditação) , induzido ou não, a partir de um gatilho ou não, soltarmos nossa mente e deixarmos as imagens fluírem livremente. Esta “arte de sonhar acordado” pode nos levar a resultados surpreendentes, nos levando por mares nunca dantes navegados. Este caminho , para o meditador experiente, pode se associar aos outros em uma mesma sessão, em diferentes etapas.

O mínimo que poderíamos falar sobre tudo isto é que tem efeitos terapêuticos, mas em realidade é uma forma de interagir rápida e profundamente com o fluxo da energia universal, dançando com Deus/Deusa/Tudo que é.

Boa viagem.

Esta entrada foi publicada em Textos diversos. Adicione o link permanente aos seus favoritos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.