Linda reflexão de meu amigo Emerson sobre a vida como um todo.

Há quem diga que a vida é uma estrada longa. Mas, para mim, ela sempre se pareceu mais com uma ponte suspensa em movimento — dessas que balançam levemente ao vento. Cada passo altera o conjunto, cada impulso muda a vibração. E é justamente esse balanço que nos ensina a caminhar. Talvez essa seja a metáfora mais honesta do que venho vivendo: o equilíbrio não está na imobilidade, mas na dança entre forças opostas que insistem em se alternar.

E, como num passe de mágica — ou talvez numa dessas intuições frias das máquinas — as redes sociais começaram a me entregar textos, links, dicas, listas, rituais orientais e advertências sobre tudo aquilo que um homem de 70 anos deveria estar pensando. Do cuidado com o coração às filosofias sobre longevidade, passando por exercícios tibetanos, estudos japoneses sobre Ikigai e previsões otimistas (ou não) sobre os próximos 20 ou 30 anos de vida.

É curioso. O mundo digital me comunicou que eu mudei de fase antes mesmo que eu sentisse isso internamente. Como se dissesse: “Agora você pertence a esta categoria aqui.” Mas eu não funciono por categorias. Nunca funcionou assim comigo.

Se tem algo que aprendi ao longo de 70 anos — e de mais de 50 países percorridos, atravessando culturas, tradições, silêncios e frenéticas metrópoles — é que a vida não cabe em moldes. Cada sociedade tenta organizar o tempo humano em caixas: juventude, idade adulta, maturidade, velhice. Mas basta olhar a pluralidade do mundo para perceber que essas fronteiras são arbitrárias.

O que existe, de verdade, é a síntese. Aquilo que você recolhe da vida inteira e que começa a formar uma clareza mais fina, mais essencial.
E talvez seja por isso que essa chuva de conteúdos sobre os “70 anos” tenha me despertado não uma crise, mas um sorriso. Porque hoje, mais do que nunca, eu busco uma coisa simples — e profundamente complexa ao mesmo tempo: equilíbrio.

Sim, equilíbrio. Não o equilíbrio perfeito, impossível, matemático. Mas o equilíbrio humano: o movimento permanente entre cuidar da saúde, manter a mente ativa, cultivar relações que fazem sentido, proteger a energia e, principalmente, abandonar o peso dos julgamentos alheios.

“O que os outros pensam de nós é problema deles.” | Fernando Pessoa
Ah, os julgamentos. Fernando Pessoa, no Livro do Desassossego, deixou uma frase que sempre me acompanha quando penso nesse tema: “O que os outros pensam de nós é problema deles.” Uma síntese quase cirúrgica da liberdade interna que tanto buscamos — essa coragem silenciosa de existir sem pedir permissão. Quanto tempo da nossa vida é vivido para atender expectativas que nunca foram nossas? Quanto do nosso cansaço vem mais do que os outros projetam sobre nós, do que daquilo que realmente somos? Existe uma libertação silenciosa quando entendemos que maturidade não é colecionar certezas — mas desmontar ruídos.

É aí que o Movimento Equilíbrio dialoga com essa nova etapa da minha vida. Um movimento que nasceu ainda na pandemia, quando todos fomos obrigados a olhar para dentro e confrontar nossos excessos, nossas acelerações e nossas fragilidades. Ali, ficou claro para mim que equilíbrio não é pausa — é construção. Não é silêncio — é consciência. E que, se eu quisesse atravessar aquela fase com alguma sanidade, precisaria criar um jeito novo de habitar o tempo.

Foi assim que nasceu o Movimento Equilíbrio: como uma resposta humana a um mundo que ficou ruidoso demais. Um convite para que cada pessoa encontre seu eixo interno, independentemente das circunstâncias externas. Um espaço para respirar, refletir, colocar a vida em perspectiva e — principalmente — aprender a viver com mais presença.

E dentro dessa visão, existe uma expressão que me acompanha desde que a ouvi pela primeira vez do meu amigo Betoh Simonsen: “equilíbrio dinâmico”. Não aquele ideal estático que nunca se alcança, mas o equilíbrio real, vivo, orgânico — como andar de bicicleta. Você só permanece de pé enquanto continua pedalando. A cada momento, uma dimensão da vida puxa para um lado: ora é a saúde, ora é a vida financeira, ora são os relacionamentos, ora é a mente que precisa de silêncio. E é nesse pedalar contínuo que o equilíbrio se revela.

Conteúdo do artigo
Gosto desse conceito porque ele traduz a vida como ela é: um ajuste fino constante, um jogo sutil entre firmeza e flexibilidade, presença e movimento, estabilidade e mudança. Não existe equilíbrio sem deslocamento. Não existe maturidade sem aceitar que, em determinados momentos, uma área ficará mais frágil enquanto outra se fortalece.

O segredo não é evitar o desequilíbrio, mas aprender a navegá-lo.
Ele nasce dessa consciência de que viver bem exige escolhas simples, porém decisivas: respirar melhor, caminhar mais, escutar o corpo, desacelerar a mente, desafiar velhos condicionamentos, trocar o automático pelo consciente. Não é uma filosofia para os 70. É uma filosofia para qualquer idade. Mas aos 70, ela ganha outro sabor.

Porque agora eu olho para a vida e vejo camadas que antes eu não percebia. Vejo a importância de preservar aquilo que é essencial e deixar cair aquilo que não serve mais. Vejo que o tempo não é inimigo — é mestre. Vejo que minha história não é feita de marcos, mas de movimentos.

E vejo, acima de tudo, que o equilíbrio não é um destino, mas uma prática cotidiana. Um jeito de estar no mundo.
O algoritmo descobriu que eu fiz 70 anos.

O que ele não sabe — e talvez nunca vá saber — é que este é o momento mais livre, mais lúcido e mais meu de todos. E que, se existe algo realmente valioso nesta fase, é a permissão silenciosa de viver a própria vida sem moldes, sem ruídos e sem pedir licença.

E isso, nenhuma máquina consegue prever.

E você — que já está nos 70, ou caminhando para eles — como tem convivido com o equilíbrio dinâmico? Compartilhe suas ideias. O artigo só ganha vida com várias perspectivas

#MovimentoEquilibrio #EquilibrioDinamico #LongevidadeConsciente #LeituraDeDomingo

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