PEQUENAS NOÇÕES DE CABALA

A palavra Cabala significa receber.

Em uma linguagem moderna, poderíamos dizer que é uma maneira de ajudar a intuir. Intuir sobre Deus, o Universo e a Natureza, penetrar em suas raízes e entender suas estruturas e significados.

Estruturada pelo povo judeu, mas desenvolvida também por grupos de outras tradições, há possibilidades que suas raízes se estendam aos mistérios egípcios e caldáicos.

Atribui-se ao rabino Akiba bem Joseph, martirizado sob o imperador Adriano em 135 d.C., a autoria do Sepher Ietsirah (Livro da Formação) que mostra, em forma de código, a formação do Universo e é, junto com o Zohar, uma das bases da Cabala. E ao rabino Simeão bem Iochai e seguidores a apresentação do Zohar, e juntos expõem uma cosmologia e antropologia esotéricas.

Levariam anos de estudos para um conhecimento relativamente profundo da Cabala, tal o volume e complexidade do material existente. Porém, como um auxílio para nosso estudo de Astrologia, podemos imediatamente solicitar o auxílio do formidável sistema simbólico que é a “Árvore da Vida” (Etz Chin), uma estrutura que nos permite ao mesmo tempo sintonizar, organizar e expandir nossa compreensão da Realidade.

Ela é constituída por uma série de círculos ou vórtices, que centralizam uma série de associações como números, planetas, imagens, sons, cores, cartas do Tarot, funções psíquicas, etc., e que transforma em uma verdadeira máquina de pensar, intuir e sentir.

Vamos agora começar a entrar em alguns detalhamentos.

Podemos visualizar a àrvore da vida como composta de três colunas, uma ativa, outra passiva e outra neutra; ou expansão, concentração e neutralidade; ou coluna da forma, da força e da energia; ou ainda uma coluna que caminha do sutil para o denso, outra do denso para o sutil e outra uma corrente alternada. Podemos também imaginá-la composta de diversos triângulos e, ainda, diversos caminhos. Todas estas visualizações podem ser válidas e significativas, uma não excluindo a outra. De qualquer forma, ela simboliza os princípios do manifesto, reverberando em diversos planos, em diversas dimensões, expressando suas simetrias. A tradição fala em um clarão relampejante, que seria uma ordem ou um caminho de criação das diversas esferas. Hoje sabemos, com a nova Física, que esta ordem não deve ser entendida como um padrão temporal, mas como uma escala de princípios, uma cascata de realizações.

O mesmo padrão manifesta-se em diversos planos ou mundos. Estes mundos são chamados na Cabala de Atziluth, o mundo da Criação ou arquetípico; Briah, o mundo da criação ou dos tronos; Yetzirah, o mundo da formação e dos anjos; e, finalmente, Assiah ou mundo material (incluindo o etéreo, que é o princípio do mundo material). Então, em um determinado sentido, relacionados com os quatro elementos, na seguinte ordem: fogo, ar, água e terra; e com os quatro planos, segundo algumas linhas esotéricas, como o plano búdico ou espiritual, o plano mental, o plano anímico ou astral, e os planos etérico e físico. É interessante nos lembrarmos aqui que qualquer modelo é uma aproximação mais ou menos fiel da realidade, que pode funcionar como um guia ou um estímulo par a percepção, mas não substitui de forma alguma a experiência direta.

É claro que existe uma relação entre Briah e a mente humana, entre Yetzerah e as emoções e sentimentos humanos, mas esta relação não é direta por causa da queda, que pode ser entendida como uma descida da velocidade de vibrações em relação aos seus princípios, trabalhando portanto em oitavas mais baixas. Estamos agora no caminho de retorno à casa do Pai, ou seja, através de um realinhamento com nossos princípios, estabeleceremos contato e eventualmente comunhão com o Criador, alinhando nossa vontade individual com a vontade do Todo e cumprindo nossa função de co-criadores.

Os sephirot podem ser considerados como focalizações ou singularidades do padrão cósmico-espiritual holisticamente orientado, manifestando-se holograficamente em nível das luminares de nosso sistema solar e, por reverberação, na humanidade e na Natureza terrestre. Simplificando e traduzindo para o português, a mesma força que se manifesta como, por exemplo, em raciocínio do ser humano, manifesta-se no planeta Mercúrio e, por exemplo, em uma flor amarela, em uma tática esperta de algum pequeno animal e nos signos de Gêmeos e de Virgem. A parte se relaciona com o Todo, o Macro com o Micro. Os sephirot procuram representar estes padrões inter-dimensionais.

Em termos de interpretação astrológica, a árvore da vida nos auxilia principalmente de três maneiras: primeiro, nos possibilitando uma ordenação de interpretação, uma espécie de mapa do ser humano em seus diversos níveis; segundo, nos permitindo posicionar os aspectos astrológicos de uma maneira que facilita a visualização das interconexões psíquicas; e, em terceiro lugar, nos permite fazer associações com outros sistemas de interpretação, como o Tarot e o I-Ching.

Entendo que a mesma árvore é observada num sentido descendente, ou do sutil para o denso , podendo ser chamada de arvore da vida e no sentido ascendente, do denso para o sutil pode ser chamada a árvore do conhecimento do bem e do mal, ou a árvore das polaridades.

Vamos agora trabalhar algumas correspondências em cada um dos sephirot. Vamos elaborá-los no sentido ascendente. Gostaria de avisar que é uma interpretação relativamente livre, intuitiva, e não muito tradicional. Mesmo dentro da Tradição não existe consenso em muitos pontos. Acredito que uma verdade não invalida necessariamente outras, muitos caminhos levam a Roma.

A primeira sephirat que iremos considerar é Malkut, o Reino. No sentido descendente, do sutil para o denso, está relacionada com o número 10, o número de um ciclo completado. Relaciona-se, neste sentido, com a letra Iod do alfabeto hebraico, cujo significado é mão. Podemos relacioná-la com o ascendente astrológico, nosso contato com o aspecto prático de nossa experiência. No sentido ascendente, com o número 1 significando aqui como o início de um processo, com a letra Aleph – boi.

A segunda sephirat é Yesod, o Fundamento. A Lua, nossa base psíquica, nossas emoções e nossos papéis. O número 9, a busca, e o número 2, nosso patrimônio (em diversos sentidos). A letra Beth – casa, e a letra Teth – serpente.

Agora caminhamos, em uma direção inversa da qual tomaríamos no sentido descendente, para Netzach, Vitória, Vênus, o foco de nossos sentimentos e afetividade, e a base de nossos contatos interpessoais. O número 7, da manifestação e expressão, e o número 3, o número do encontro e da ponte entre polaridades. A letra Zain – espada, que estabelece limites, e a letra Guimel – camelo, o que nos auxilia nas travessias difíceis.  Curiosamente, tem uma relação com a mente grupal.

A quarta sephirat é Hod, Glória. Mercúrio, o foco de nossos pensamentos, de nossas comunicações e da organização de nosso mundo. O número 8, o número da troca de energia no mesmo plano e eventualmente interdimensionalmente, e o número 4, o número da ordem, estrutura e autoridade. A letra Daleth – porta, sugere uma entrada para um novo estado de consciência, e a letra Heth – cerca, sugere a ordenação de territórios.

A quinta sephirat é Tiphareth, Beleza. O rei, uma criança, um deus sacrificado. O Sol, símbolo do Self, o encontro da parte com o Todo, do Criador com a criatura, o despertar do Silencioso. O número 6, da escolha, da ordem e do caminho, e o número 5, o número do Homem e do Mestre. O Ser, sendo. A letra Vau – unha, que protege e focaliza a energia dos dedos, um foco de criação. A letra – janela, uma abertura para o Universo.

A sexta sephirat é Chesed, Misericórdia. Júpiter, relacionado com valores e ideais no ser humano. O número 6, caminho, o número 4, da ordem e da autoridade (enquanto poder exercido em uma determinada área de influência). A letra Vau – unha, e a letra Daleth – porta.

A sétima sephirat é Geburah, Força, Severidade. Está ligada a Marte, um poderoso guerreiro que concentra a força, ligada à sexualidade, aos impulsos e aos desejos. Ao número 7, da manifestação, e ao número 5, do ensinar e aprender. A letra Zain – espada, aqui mais no sentido de penetração, e à – janela, aqui mais no sentido de uma nova possibilidade. O esforço da disciplina também está associado a esta sephirat.

A oitava sephirat no sentido ascendente é Chokmah, Sabedoria. Não existe consenso entre os cabalistas a que planeta associar. Principalmente agora que estamos entrando em Aquário gosto de associá-la a Netuno, e Urano à Kether, os embaixadores das estrelas. É o ponto onde o pessoal se funde com o universal, e onde o indivíduo comunga com seu grupo de almas. A sensitividade. O número 8, aqui a transmutação alquímica, e o número 2, aqui a grande sabedoria silenciosa e compassiva. A letra Beth – casa, aqui entendido no sentido arquetípico de lar, e Chet – cerca, aqui apontando para o grupo de almas. Não somos sós.A experiência do êxtase.

A nona sephirat é Binah, Entendimento. É a hora do esforço concentrado e a busca da verdade da manifestação, do tesouro de nossa alma. Saturno, quem testa e concentra. O número 3, o número do equilíbrio, e o número 9, da busca da verdade das coisas. A letra Ghimel – camelo, das grandes travessias, e a letra Teth – serpente, da força da matéria, da manifestação, ou ectoplasma, e da sabedoria e conhecimento. O Espírito Santo.

A décima sephirat é Kether, a Coroa. É o coroamento de todo o processo. Os números 1 e 10, o início e o fim. A letra Aleph – boi, o que completa a grande jornada, e a Iod – mão, a que manifesta. A Presença. O grande choque do acordar para todas as dimensões da experiência. A revelação. A intuição e a iluminação no ser humano.

Agora temos a não-sephirat Daath, o Conhecimento. Está entre o ser e o não ser. É a grande alquimista, quem tira e quem traz a energia para a manifestação em nosso plano. Plutão, o agente da transformação profunda. A Morte. O teto do inferno e o chão do paraíso. O Abismal. O Profundo. O Silencioso. O Misterioso. O Andrógino.

As energias mal balanceadas da Criação alimentam as sephirat de face escura – os Qliphot.

Além dos limites do entendimento de nossa mente, os cabalistas ainda vislumbram o que vou chamar aqui de “Véu do Desconhecido”, e dão o nome de Ain, Negatividade; Ain Soph, o Ilimitado; e Ain Soph Aur, a Luz Ilimitada.

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